É costume dizer-se que depois da tempestade vem a bonança. Sempre que dou por mim num novo ciclo desta minha vida, esta frase nunca deixa de fazer sentido e lembro-me sempre dela como uma verdade irrefutável.
E depois de tanto tempo repleto de aguaceiros, céu nublado e um interminável temporal, até custa acreditar, mas fez-se ver o tão desejado raio de sol que foi aparecendo bem devagar, confundindo-se inicialmente com o brilho dos constantes relâmpagos que tão bem se faziam ver. Mas a verdade é que apareceu mesmo, esse sol foi aparecendo, arrastando toda a carga negra das nuvens carregadas de lágrimas e deu origem a um céu limpo, de um azul esplêndido, como se uma nova página surgisse na minha vida, completamente vazia e, que a partir desse momento iria escrevê-la a teu lado.
E assim foi, dia após dia a nossa história fazia ver-se mais e melhor, e acredita que desde o primeiro momento, desde a mais pequena e aparente coisa despercebida que acontecia entre nós, desde aí a felicidade de te ter do meu lado era estonteante. Construí um dia-a-dia a teu lado, eras papel principal do meu pensamento e figurante em todas as minhas cenas. Eras motivo de sorrisos, de desabafos, mas principalmente, de orgulho.
Os dias foram passando a uma velocidade louca, e quase não quis acreditar quando me deparei com um mês passado a teu lado. A nossa história era vivida de tal maneira que já não imaginava um amanhã sem ti. Como tudo na vida, nem tudo é um mar de rosas e momentos menos bons (prefiro chamar-lhes assim) também surgiram.
É na eminência do sentimento de perda que nos deparamos com aquilo que realmente é importante na nossa vida, e foi quando senti que te estava a perder que tive a certeza do quão importante eras para mim. Nem quis acreditar quando te vi a abandonares a minha vida sem um desfecho digno para a nossa história. Como se de um fenómeno se tratasse, o mau tempo roubou o cenário ao sol esplêndido da minha vida e vi-me rodeado novamente por tudo aquilo que pensei estar enterrado e que já nem sabia o quanto doía estar assim. Preferiste simplesmente largar a caneta e jogar a nossa página fora sem pelo menos tentares perceber qual era o problema. O tempo foi passando e via-me sem chão, sem sentido.
Apesar de nunca pensar que o fizesses, a verdade é que foste atrás, procuraste por toda a parte essa nossa folha amachucada e a realidade é que estás a fazer de tudo para lhe dar o tratamento que sempre mereceu. Aceitei-te de volta porque quando se gosta – e nem fazes ideia o quanto eu gosto de ti – há sempre uma segunda oportunidade para essa pessoa. E eu recebi-te de braços e coração abertos como sempre teve para ti porque sempre fiz de tudo para que a nossa história resistisse a todos os infortúnios que nos surgiam. Hoje estou contigo, e estou bem, a tempestade acalmou e já vejo o nosso sol ao fundo por entre o nevoeiro. Quero continuar sempre assim contigo, e tempestades, essas, não quero vê-las nunca mais. Quero sim o sol – o meu sol contigo. Sempre.

Com a experiência de tudo aquilo que vivi até hoje, nunca pensei que isto me acontecesse novamente, mas a vida é mesmo assim, uma aprendizagem constante e sim, eu aprendi – e muito. Sempre fez parte de mim a entrega total em tudo aquilo em que me envolvo e quando se fala em amor, isso acontece no seu maior êxtase. E chegou o dia, um dia supostamente igual a tantos outros, chegou o dia em que o amor bateu à porta e eu acolhi-o de braços e coração aberto, dando-lhe tudo de mim, alimentando-o com parte de mim. Mentiria se negasse a felicidade que vivi ao lado desse amor (apesar de ser demasiado estranho para que se chamasse como tal) mas a verdade é que passei momentos únicos ao lado dessa felicidade. Mas uma outra coisa que a vida me ensinou também é que uma relação não é feita apenas por uma parte – por mais que essa parte lute por isso – e aprendi também que quando um não quer, dois não podem. E tu ensinaste-me bem isso, ensinaste-me a amar como nunca antes o tinha feito, ensinaste-me também a sofrer por muito que não me desejasses tal dor. Ensinaste-me a esquecer e acredita que nunca foi tão doloroso conseguir tal coisa. Com o tempo como nosso aliado torna-se mais fácil aguentar e sobretudo superar. Hoje em dia já consigo pensar em ti sem que o coração aperte, sem que doa. Pensei que não o iria conseguir, mas não me restava outra alternativa, a última lágrima que soltei por ti salientou-se de felicidade num misto de sentimentos que senti na altura – lembro-me perfeitamente desse dia, uma tarde como todas as outras tornou-se no dia em que te esqueci, num simples acto banal do dia-a-dia apercebi-me que já não vivias em mim, quer dizer, sempre viverás, mas não daquela maneira. Estava em pleno metro como noutro dia qualquer, e quando passei por aquela estação que tanto te identificava, não me lembrei de ti. Olhei a mesma janela de sempre onde devoramos outrora nicotina ao sabor do vento e acredita, nesse dia não me lembrei de ti, e melhor ainda não me magoou aperceber-me de tal coisa. Apenas aquela lágrima me trouxe a tua lembrança e junto a ela todos os momentos que vivi contigo. E esses, nunca os esquecerei.

desabafo.

Existem dias que nos marcam para sempre. Seja pelos melhores motivos ou por aqueles mais tristes, são dias diferentes na nossa vida e por isso não deixamos que passem despercebidos. E este dia, que para muita gente foi apenas mais um dia, para mim era um desses dias diferentes. Passou de um dia bom, dia de felicidade da comemoração de mais um ano da minha existência, até que se tornou no teu último dia, no nosso último dia juntos.
Dia - tudo - dor - mágoa - tristeza - lágrimas - vazio - nada - noite - barulho. Fim. Silêncio.
Descansa em paz. Amo-te!
"Por vezes quando estamos sozinhos, temos a tendência de pensar naquilo que não devemos."
Lembro-me perfeitamente de ouvir estas palavras da boca de uma amiga que o tempo ou o destino - como preferirem - fez questão de nos afastar.
Hoje é um desses dias, um dia em que a solidão atrai a saudade tal como um íman e com ela um turbilhão de coisas difíceis de gerir. Tenho saudades de muita coisa e muita gente.
Saudades de quem infelizmente sei que não voltarei a ver, saudades daqueles que perdi tal como aquela amiga (e nem imaginam o quanto dói relembrar tudo o que passamos), saudades tuas - sim tuas! - saudades de pequenos gestos que só revelavam grandes atitudes, saudades daquele abraço e daquela palavra, saudades disto e daquilo, mas acima de tudo, e não querendo de todo ser egoísta, tenho saudades minhas.
Saudades de estar bem comigo próprio, de sentir aquele bem estar que há muito não o sinto.
E nestes dias, em que o ponteiro do relógio parece querer andar contra o tempo e não avançar na sucessão de segundos que lhe é destinada, ficando quase parado, é em dias como o de hoje em que faço o famoso rewind e relembro tudo o que já fui e tudo o que já passei, os momentos fantásticos na melhor companhia, e aqueles em que a tristeza roubava o lugar do sorriso na companhia do vazio - e quando isto acontece, o tempo parece mesmo estar parado.
Mas no fundo estes dias são bons na nossa vida, ajudam-nos a arrumar o passado, encaixotando tudo por categoria: tristezas ali, amores acolá, memórias aqui. E assim, tudo será mais fácil, ficamos com o presente organizado e com espaço para receber o futuro e sempre que quisermos, basta ir a uma dessas caixas e relembrar este ou aquele momento.
Acima de tudo, estes dias vão ajudar-nos a que daqui em diante as coisas sejam vistas pelos mesmos olhos, mas de maneira diferente.
E parecendo que não, neste desabafo, o ponteiro que tanto teimava em não querer avançar, pareceu andar que nem ventoinha à volta do relógio.
Já se faz tarde, ausento-me por agora, mas volto porque ainda há tanto por escreveя.
Há determinados momentos na nossa vida em que simplesmente paramos, todo o corpo fica imóvel e só a mente dá asas ao pensamento.
Este é um desses meus momentos, onde todos os porquês me invadem sem que consiga alcançar qualquer tipo de resposta para eles. Procuro. Procuro e só vejo uma hipótese, só encontro um lado da moeda - tu. Mas neste momento, agora mesmo que estou rodeado de porquês, não encontro qualquer resposta porque cada vez mais tenho a moeda de dupla face, onde cada vez menos te tenho a ti.
Invadido pelo cansaço da ilusão, perco as forças de continuar, desisto de lutar por ti, de lutar por um nós que nunca existiu.
Mas não, não me posso deixar neste impasse.
Não posso permitir que perca a guerra sem pelo menos ter ido à luta. Não posso baixar os braços. Não me posso render ao cansaço porque no meio de tudo isto existe uma força, uma força que tu me deste, força essa que quero conquistar, que vou amar.
O silêncio pairava ali. Aliás há já muito tempo que naquele lugar apenas se conhecia o silêncio e a escuridão. Não se conheciam paredes nem limites - aquele pequeno lugar era o meu Mundo.
Podia estar em mil e um lugares diferentes num segundo, bastava imagina-los um a um na minha mente. Ali, no meu canto, passava todo o tempo da minha vida, um tempo sem tempo, um tempo sem lugar para existir. Mas num determinado momento, numa fracção desse tempo sem tempo, uma forte luz invadiu este espaço por uma pequeníssima fenda da escuridão e fez-se brilhar. Apartir desse momento já havia noção do tempo e já se fazia conhecer a origem daquele lugar e eu já tinha razão para existir.
Passei anos a tentar perceber esse sonho até ao dia em que te conheci. Até ao dia em que percebi que por detrás daquela luz estavas tu.

É incrível como em apenas uma fracção de segundo as nossas vidas podem mudar.
Até que ponto a nossa vida depende das vidas dos outros?

Por muito que tentemos proteger os que mais amamos, será que conseguimos realmente impedi-los de sofrer?
Na ânsia de os proteger, por vezes somos nós próprios que acabamos por magoá-los, mesmo sendo o que menos desejamos.
De repente a vida prega-nos uma partida e tudo deixa de fazer sentido.
Quando esse momento chega, nós, nunca estámos preparados.




É costume dizer que depois da tempestade vem a bonança.
Porque razão a felicidade é um mistério tão grande, porque será que ela é tão difícil de alcançar?
Será mesmo necessário sofrermos tanto para sermos felizes?
Com a pretensão de que merecemos mais do que os outros, sofremos com pena de nós mesmos. Andamos sempre tão preocupados em pensar no que nos falta para sermos felizes, que não temos capacidade de parar.
De ver que a felicidade afinal esteve sempre ali.

Todos nós queremos percebê-la como um bem.
Alguns procuram-na em alguém que os faça sentir mais jovens, outros procuram-na no sítio errado.
Existem ainda alguns corajosos que pensam que podem alcança-la sozinhos, mas depois apercebem-se que necessitam de ajuda. Existem ainda aqueles que não conseguem ver para além deles mesmos e continuam à procura.
Eu encontrei a minha felicidade junto dos que mais amo e todos os dias a sinto num gesto, num carinho, num sorriso, num olhar.


retirado da série televisiva «Casos da Vida»
O relógio marca duas e vinte e três da manhã e aqui estou eu mergulhado no silêncio da noite, acompanhado pela melodia do vento que passeia as folhas caídas, juntamente com o bater de um coração, coração sem identidade porque apesar de ser meu, não me pertence e também ele anda à deriva pelo meio das folhas.
O relógio não pára, nem o relógio nem este coração, apesar de quase não se fazer ouvir porque o seu rumo não se encontra definido.
Bate fraco, bem baixinho mas quando algo de bom passa por ele, ele estremesse e solta um grito bem alto e bate bem forte como que se fosse saltar para fora do peito. No meio de tudo aquilo, certamente deveria ter sido algo mesmo forte capaz de quebrar aquela melancolia.
E foi. Foi mesmo algo forte, algo nunca antes vivido desta maneira. Foste tu. Tu que entraste neste pobre coração quase despercebido e ficaste, teimaste em ficar - mesmo quando pensei que te tinhas ido embora percebi que permaneceste sempre no teu canto - e daqui já não sais (nem eu quero que saias).
Invadiste de tal modo este coração que inventaste um controlo remoto com capacidade de controlar todo o meu pensamento, actos e sabe-se lá o que mais...
Mas de uma coisa te garanto, agora que tomaste controlo de toda a situação, agora - se quiseres sair - sou eu quem te vai impedir e ordenar que fiques e que cumpras as funções do lugar que ocupaste neste meu coração que já bate por ti e que a cada dia que passa se faz ouvir mais alto e melhor.