O relógio marca duas e vinte e três da manhã e aqui estou eu mergulhado no silêncio da noite, acompanhado pela melodia do vento que passeia as folhas caídas, juntamente com o bater de um coração, coração sem identidade porque apesar de ser meu, não me pertence e também ele anda à deriva pelo meio das folhas.
O relógio não pára, nem o relógio nem este coração, apesar de quase não se fazer ouvir porque o seu rumo não se encontra definido.
Bate fraco, bem baixinho mas quando algo de bom passa por ele, ele estremesse e solta um grito bem alto e bate bem forte como que se fosse saltar para fora do peito. No meio de tudo aquilo, certamente deveria ter sido algo mesmo forte capaz de quebrar aquela melancolia.
E foi. Foi mesmo algo forte, algo nunca antes vivido desta maneira. Foste tu. Tu que entraste neste pobre coração quase despercebido e ficaste, teimaste em ficar - mesmo quando pensei que te tinhas ido embora percebi que permaneceste sempre no teu canto - e daqui já não sais (nem eu quero que saias).
Invadiste de tal modo este coração que inventaste um controlo remoto com capacidade de controlar todo o meu pensamento, actos e sabe-se lá o que mais...
Mas de uma coisa te garanto, agora que tomaste controlo de toda a situação, agora - se quiseres sair - sou eu quem te vai impedir e ordenar que fiques e que cumpras as funções do lugar que ocupaste neste meu coração que já bate por ti e que a cada dia que passa se faz ouvir mais alto e melhor.