"Por vezes quando estamos sozinhos, temos a tendência de pensar naquilo que não devemos."
Lembro-me perfeitamente de ouvir estas palavras da boca de uma amiga que o tempo ou o destino - como preferirem - fez questão de nos afastar.
Hoje é um desses dias, um dia em que a solidão atrai a saudade tal como um íman e com ela um turbilhão de coisas difíceis de gerir. Tenho saudades de muita coisa e muita gente.
Saudades de quem infelizmente sei que não voltarei a ver, saudades daqueles que perdi tal como aquela amiga (e nem imaginam o quanto dói relembrar tudo o que passamos), saudades tuas - sim tuas! - saudades de pequenos gestos que só revelavam grandes atitudes, saudades daquele abraço e daquela palavra, saudades disto e daquilo, mas acima de tudo, e não querendo de todo ser egoísta, tenho saudades minhas.
Saudades de estar bem comigo próprio, de sentir aquele bem estar que há muito não o sinto.
E nestes dias, em que o ponteiro do relógio parece querer andar contra o tempo e não avançar na sucessão de segundos que lhe é destinada, ficando quase parado, é em dias como o de hoje em que faço o famoso rewind e relembro tudo o que já fui e tudo o que já passei, os momentos fantásticos na melhor companhia, e aqueles em que a tristeza roubava o lugar do sorriso na companhia do vazio - e quando isto acontece, o tempo parece mesmo estar parado.
Mas no fundo estes dias são bons na nossa vida, ajudam-nos a arrumar o passado, encaixotando tudo por categoria: tristezas ali, amores acolá, memórias aqui. E assim, tudo será mais fácil, ficamos com o presente organizado e com espaço para receber o futuro e sempre que quisermos, basta ir a uma dessas caixas e relembrar este ou aquele momento.
Acima de tudo, estes dias vão ajudar-nos a que daqui em diante as coisas sejam vistas pelos mesmos olhos, mas de maneira diferente.
E parecendo que não, neste desabafo, o ponteiro que tanto teimava em não querer avançar, pareceu andar que nem ventoinha à volta do relógio.
Já se faz tarde, ausento-me por agora, mas volto porque ainda há tanto por escreveя.